terça-feira, 28 de abril de 2009

Meu encontro com Drew Barrymore

Os tempos atuais assistem a uma desenfreada busca pela fama, muitas vezes a qualquer custo. Alguns, macacos de um zoológico audiovisual, preferem se exibir em horário nobre naquele reality show que, infelizmente, virou meio de vida para um certo tipo de indivíduo. Outros aproveitam as facilidades que o digital permite e fazem filmes. Não importa se serão lembrados ou comentados daqui a dez, vinte ou mesmo cinco anos. O jovem Brian Herzlinger se enquadra no segundo tipo. Movido por um desejo adolescente – conhecer a atriz Drew Barrymore, a eterna garotinha de E.T. – o extraterrestre –, ele uniu o útil ao agradável e rodou um documentário.

Apaixonado pela atriz desde que tinha 10 anos de idade e foi vê-la na fantasia de Spielberg, Herzlinger devotou os dezessete seguintes a buscar uma forma de encontrá-la. Sua saga tem início quando ele ganha 1.100 dólares em um programa de perguntas e respostas na televisão (ironicamente, a resposta premiada envolve justamente o nome da atriz). Com o dinheiro, compra uma câmera digital na loja Circuit City, chama alguns amigos e resolve ir à luta. Ele não tem a menor idéia de como começar ou chegar até Drew. O filme é, assim, uma espécie de making-of da realização de um sonho, mostrando todas as etapas desse projeto. Recorrendo freqüentemente à teoria dos seis graus de separação – segundo a qual todas as pessoas, em todo o mundo, estão de certa forma interligadas por meio de uma rede de apenas outras seis pessoas que se conhecem – , Herzlinger vai estabelecendo contatos os mais variados: desde “a amiga da amiga de um amigo” que pode fornecer informações preciosas até a secretária da atriz, passando pela esteticista de Drew (que lhe providencia um tratamento de limpeza de pele) e contando com um auxílio providencial até de alguns atores, como o sumido Corey Feldman (que foi namorado da atriz na adolescência) e Eric Roberts. Também consegue um encontro com John August, roteirista de As Panteras. Todos simpatizam com a causa do rapaz, que, assim, vai dando corpo à sua idéia.

A chance para encontrar a atriz surge quando há a pré-estréia de As Panteras detonando. Por meio de uma ação fraudulenta (mas bem brasileira!), ele consegue ter acesso à área VIP e quase concretiza seu sonho: fica a pouco mais de um metro de Drew. Mas a emoção é mais forte, as palavras faltam e o sonho é adiado. Com o orçamento quase estourado, e sem maiores expectativas, quase noventa dias depois de iniciado o projeto, uma surpresa do destino vem em forma de um telefonema.

Há duas maneiras de se entender o filme. A primeira é como uma baita promoção (involuntária) da atriz Drew Barrymore, que é tida como extremamente simpática, gentil, acessível, qualidades que são exaltadas por todos que a conhecem. Enfim, gente como a gente, o que, sem dúvida, deve ser bastante raro em Hollywood. Ou seja, o fã que apenas queria documentar um momento de sonho acabou por prestar uma singela homenagem à atriz, que, no final, confirma tudo o que se falou dela anteriormente. A segunda é como um exercício de egocentrismo praticado por Brian Herzlinger. Que interesse alguém pode ter em querer saber como o diretor penou para conhecer sua musa? Qual é a grande questão de que trata o filme? Alguns podem dizer: nunca desista de seus sonhos (o que o próprio diz na cena final). Tudo bem, mas não haveria causa mais nobre em que se nos espelhar? Embora haja momentos engraçados, como a aula de etiqueta, o projeto, no todo, acaba sendo de interesse restrito e que, graças aos tempos atuais, em que todos buscam um lugar ao sol, acabou se tornando público – foi primeiro exibido no Festival do Rio e depois entrou em cartaz, em circuito alternativo.
Além disso, o filme ainda pode servir como incentivo para que outros fãs, bem mais malucos que Herzlinger, saiam por aí perturbando seus ídolos, igualmente na ânsia de, a um só tempo, realizar um sonho e tornar-se famoso, mesmo que por pouco tempo. Ou seja, o exemplo é perigoso.

Herzlinger teve mais que seus quinze minutos de fama. Mas não precisava ter dividido sua aventura com mais ninguém. Era só documentar e mostrar para os netos. Fossem outros tempos...


MEU ENCONTRO COM DREW BARRYMORE (My date with Drew)
Documentário
EUA, 2004, 90 minutos.
Direção: Brian Herzlinger.

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