quarta-feira, 6 de maio de 2009

Férias de amor

Adaptação de uma peça de grande sucesso da Broadway, escrita por William Inge, Férias de amor é um excelente exemplar do melodrama típico de Hollywood, um subgênero extremamente popular nos anos 50 e cujo mestre foi Douglas Sirk. Dirigido pelo mesmo Joshua Logan que conduziu a montagem teatral, o filme pode ter envelhecido sob certos aspectos, mas sua força romântica permanece inalterada, apesar das mudanças de costumes da sociedade.

O desocupado Hal Carter (William Holden) viaja clandestinamente de trem até chegar a uma pequena cidade do Meio-Oeste americano. Sua intenção é procurar um antigo colega de faculdade, Alan Benson (Cliff Robertson, em sua estréia no cinema; ele se consagraria doze anos depois, com o Oscar por seu desempenho em Os dois mundos de Charly), e acaba promovendo uma revolução nos costumes locais ao despertar o interesse da jovem namorada do amigo, Madge (Kim Novak). Toda a ação se passa no dia do Grande Piquenique Anual, tradicional festa comunitária que tinha na coroação da Rainha do Ano seu ponto alto, citado até nos jornais locais. É neste curto espaço de tempo que se operam mudanças significativas na vida e no pensamento dos personagens, incluindo uma professora solteirona e desesperada para casar (Rosalind Russell, em atuação marcada pelo humor e pelo patético).

A fórmula clássica dos melodramas é mantida, com a estrutura familiar e social desmoronando frente ao elemento externo, que prorrompe no ambiente estabelecido e, ao seu modo, destrói as convenções determinadas. A narrativa é pontuada por uma grande tensão sexual, que explode em pequenos detalhes, como na exposição do peito raspado de Holden, o máximo de sensualidade permitido pelo rígido código de censura da época. Repare na mudança de comportamento que sua presença provoca nos personagens femininos. Flo (interpretada por Betty Field), a irmã de Madge, no começo apresentada como uma adolescente rebelde e quase masculinizada, que briga com garotos, se transforma em uma jovem e sedutora mulher, que, ao final, assume sua condição de intelectual sem perder a feminilidade. A cena antológica do filme é a dança entre o par formado por Holden e Novak, à beira do rio, que posteriormente foi bastante imitada e copiada em produções do gênero. No fim, quando incentivada pela irmã a recusar a vidinha modorrenta que se lhe anuncia e seguir atrás de Hal, confrontando a preferência da mãe, Madge pronuncia a frase famosa: “A gente não ama uma pessoa por ela ser perfeita”. Não deixa de ser também emblemática a cena final, com o carro de Madge seguindo a trilha do trem que conduz Hal, mantendo acesa a chama da paixão e, de certo modo, adequando o filme a uma resolução romântica, de acordo com o pensamento da época (ainda que por uma moral bastante questionável do ponto de vista das tradições de então).

Indicado a 6 Oscars em 1956, incluindo melhor filme, Férias de amor ganhou nas categorias de Direção de Arte e Montagem. Teve uma refilmagem muito inferior feita para a TV em 1998, chamada Piquenique, estrelada por Josh Brolin e Gretchen Moll nos papéis centrais.

FÉRIAS DE AMOR (Picnic)
Drama
EUA, 1955, 113 minutos.
Direção: Joshua Logan
Elenco: William Holden, Kim Novak, Rosalind Russell, Cliff Robertson, Betty Field, Susan Strasberg.

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