quarta-feira, 20 de maio de 2009

O Vigilante Rodoviário

Exibida pela TV Tupi no começo dos anos 60, a série O Vigilante Rodoviário entrou para a história da televisão brasileira. Marco de toda uma geração, que vibrava com as aventuras do patrulheiro Carlos e seu fiel ajudante, o cachorro Lobo, o seriado foi um projeto criado e levado adiante pelo diretor Ary Fernandes, cujo objetivo declarado era dar vida ao primeiro herói genuinamente brasileiro. O sucesso alcançado pela série comprova o acerto de sua intenção. Teve uma duração relativamente longa, com 39 episódios. Todos estão sendo reapresentados pelo Canal Brasil, desde o dia 9 de março, às segundas-feiras, 20h30, com reprises às terças, 16h, e aos domingos, 11h.

Mesmo quem não viveu naquela época já leu ou ouviu falar sobre as aventuras do vigilante Carlos, um patrulheiro rodoviário que agia na Rodovia Anhagüera, em São Paulo, a bordo de uma Harley Davidson 1952 ou de um Simca Chambord 1959, acompanhado por seu cão Lobo (que também serviu de inspiração para muitos donos de cães batizarem seus animais). Juntos, combatiam ilegalidades diversas e auxiliavam na resolução de crimes. Mas não há violência explícita nem tiroteios, para não assustar o público-alvo da série, mais voltada a crianças e adolescentes. A origem de Lobo é explicada em um episódio. A aura de heroísmo conferida ao vigilante contribuiu para que muitos meninos se interessassem em seguir a carreira policial, incluindo o próprio protagonista, o ator Carlos Miranda, que, com o final da série, foi aprovado em um concurso para a Polícia Rodoviária Federal, no único caso conhecido de ator que virou o personagem que interpretava. Depois da série, ainda fez tímida carreira no cinema, sem maior destaque.

A estrutura da série é bastante simples e pode ser resumida a três atos. O primeiro define a ação e introduz os personagens do universo marginal: golpistas, ladrões de obras de arte e arte sacra, fugitivos da polícia etc. O segundo mostra o empenho do vigilante Carlos e seus amigos de corporação na captura dos meliantes. O terceiro é a conclusão, sempre óbvia, com o bem vencendo o mal e os mocinhos exibindo seus sorrisos de satisfação pelo dever cumprido. Posteriormente, o encerramento passou a ser feito com uma mensagem moralizante dita pelo patrulheiro, conclamando os motoristas a seguirem as regras de trânsito e direção segura, combatendo assim os acidentes nas estradas.

Infelizmente, a série não resistiu à passagem do tempo e envelheceu bastante em muitos aspectos. Hoje, só mesmo com o olhar romântico do saudosismo ou com uma boa dose de curiosidade é possível assistir às aventuras do vigilante Carlos sem se importar com a inocência das situações. A começar pela má qualidade da cópia em alguns episódios, cheios de riscos e manchas, e com o som inaudível. Os roteiros se esforçam, mas não conseguem fugir do esquematismo maniqueísta comum a esse tipo de produção. As cenas de luta que empolgavam a garotada na época hoje não convencem. Mas nada disso tira o mérito da produção, que ocupa um lugar de destaque no coração de todos os que viveram aqueles tempos. E, que mais não fosse, é sempre importante manter viva a memória cultural de nosso país.

Em 1978, houve uma tentativa de revitalizar o seriado e um novo episódio piloto foi produzido por Fernandes, desta vez com Antônio Fonzar no papel do vigilante Carlos e com três cães se revezando como Lobo (originalmente era apenas um, que obedecia aos comandos de um treinador). Mas o projeto não foi adiante e resumiu-se a este único novo episódio.

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