quarta-feira, 15 de julho de 2009

Plano 9 de 2009

Em minha última coluna do mês de junho, escrevi sobre a onda de refilmagens e como isso vem se tornando freqüente, já há alguns anos, na indústria de Hollywood. Nem se pode chamar o artifício de fenômeno, posto que parece ter virado regra reaproveitar idéias utilizadas anteriormente em anos passados. E nem só os filmes mais famosos correm esse risco: até mesmo produções obscuras ou pouco conhecidas vêm sendo refilmadas, num atestado de absoluta preguiça criativa ou falta de originalidade dos roteiristas, com o apoio irrestrito dos produtores, que concordam em financiar novas versões de antigos sucessos em nome do lucro fácil. Vejo refilmagens com ressalvas. Mas, quando até o pior filme de todos os tempos entra no saco, é porque alguma coisa vai mesmo muito mal pelos lados de Hollywood. Pois é: para quem não sabe, Plano 9 do espaço sideral acaba de ganhar uma nova versão.

Quem nunca viu o filme original, não sabe o que está perdendo. Basta dizer que foi dirigido por Ed Wood Jr., eleito o pior diretor de cinema de todos os tempos, sendo esta sua obra-prima às avessas. Ou seja, trata-se do supra-sumo da ruindade. Particularmente, depois de rever o filme algumas vezes, discordo. Acho que ele fez coisa muito pior, como Noite das assombrações. No caso de Plano 9..., realizado em 1959, o diretor acompanhou uma tendência de sua época, os filmes de ficção científica de contornos apocalípticos, prenunciando a devastação do universo após uma iminente guerra interplanetária. No fundo, tem uma mensagem pacifista. Tentou fazer o que Robert Wise conseguiu com O dia em que a Terra parou, lançado quase dez anos antes (e que também já teve sua recente refilmagem oportunista, estrelada por Keanu Reeves). Mas, por falta de recursos, ou incompetência narrativa, ou simplesmente por ser quem era, Ed Wood não conseguiu ser levado a sério. O maior absurdo de se fazer uma refilmagem daquele que já foi escolhido oficialmente o pior filme de todos os tempos é que, como geralmente acontece nesses casos, o original seja visto como muito superior. E, neste caso, seria um paradoxo de proporções hecatômbicas, a ponto de quase obrigar a crítica especializada a rever todos os conceitos que defendeu ao longo de todos esses anos. Afinal, como valorizar o que já foi apresentado e consolidado como o pior de todos?

Assistir ao filme original é uma grande diversão. A história, sobre uma invasão alienígena que ameaça o futuro da humanidade, é mero pretexto para um desfilar de equívocos. Há seqüências noturnas que se misturam às diurnas, sem nenhuma lógica temporal; o chão do cemitério é um tapete e as lápides balançam quando os personagens andam (uma delas chega a cair, num dos momentos mais grotescos do filme). Uma seqüência célebre é aquela que mostra uma patrulha da polícia saindo da delegacia, logo depois é vista correndo por uma estrada e finalmente chegando ao seu destino, mas são usados três modelos diferentes de carro. Como se não bastasse, os diálogos são pavorosos e, no final das contas, a trama acaba não tendo pé nem cabeça. Mas, em termos de bizarrice, nada disso supera a manobra que Ed Wood precisou fazer para cobrir um desfalque no elenco. Bela Lugosi já havia rodado algumas poucas cenas quando morreu antes mesmo que o filme fosse iniciado. Mesmo assim, o diretor manteve-o como protagonista, usando um recurso inacreditável: pediu que o massagista de sua namorada (a atriz Dolores Fuller) o substituísse; como não havia nenhuma semelhança entre ele e o ator húngaro, o jeito foi mostrá-lo sempre com uma capa cobrindo-lhe o rosto! Unindo ficção e realidade, o personagem de Lugosi também morre no primeiro minuto do filme (mas continua aparecendo depois, por força do roteiro), de maneira igualmente absurda. Ou seja, há ainda todo um aspecto folclórico por trás de Plano 9.... E isso nenhuma refilmagem conseguirá reproduzir ou reacender.
O diretor da empreitada é um tal de John Johnson, que, embora esteja na ativa desde 2004, ainda não fez nada que merecesse muito destaque. Especializado em fitas de terror, anuncia para o ano que vem um título suculento para os fãs do gênero: Vampiros de Zanzibar. Ele também foi ator, trabalhando em filmes igualmente obscuros (o mais conhecido é Rebeldes e heróis, de 1991 – mas ele só faz uma ponta!). No elenco, o nome principal é o de Brinke Stevens, antiga B-queenie (musa de filmes baratos), dando vida à inesquecível Vampira. Mas duvido que este novo Plano 9 renda uma centelha do culto que é devido ao original.

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