sábado, 26 de setembro de 2009

Festival do Rio - de borboletas e viajantes

O LAR DAS BORBOLETAS ESCURAS – Jovem problemático é enviado a uma ilha onde funciona uma escola de correção comportamental de adolescentes. Lá, precisa aprender a conviver com os outros internos, enquanto é atormentado pelas lembranças de sua infância (que escondem um segredo) e se apaixona pela filha do dono do lugar. O cinema escandinavo, com forte tradição em temas que englobam o universo infanto-juvenil, tem aqui mais um excelente momento, num filme de clima opressivo, realçado pela fotografia em tons escuros. O comportamento arredio e autodestrutivo do protagonista é explicado quase ao final, em uma cena dolorosamente trágica, e o recurso dos flashbacks e insights de lembranças permeia toda a narrativa, tornando a história mais complexa e absorvente. Erro: os jovens intérpretes são visivelmente mais velhos do que a idade de seus personagens (todos por volta dos 13 / 14 anos), o que compromete a credibilidade do roteiro. O filme foi o escolhido para representar a Finlândia por uma vaga entre os concorrentes ao Oscar de Filme Estrangeiro. Baseado em premiado romance de Leena Landers. O título vem da criação de bichos-da-seda que o dono do lugar pretende iniciar para evitar que a escola feche, por falta de recursos: se as larvas não forem bem alimentadas, elas ficam escuras. * * *

VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO – Primeira reunião de dois dos mais festejados diretores brasileiros da atualidade, Marcelo Gomes (do superestimado Cinema, aspirinas e urubus) e Karim Ainouz (do lírico O céu de Suely, ambos premiados em edições anteriores do festival). O resultado só podia mesmo ser um híbrido de dois estilos tão parecidos. Um geólogo de quem apenas ouvimos a voz (Irandir Santos) viaja a trabalho pelo sertão nordestino, conhecendo vários tipos humanos, descobrindo histórias de amor e desilusão, enquanto se corrói de dor pela lembrança da mulher que amou e que, teoricamente, o teria abandonado. A narrativa é sofrida, com a solidão do personagem central encontrando paralelo nas longas distâncias percorridas, no clima seco e árido da paisagem sertaneja e na imobilidade dos pequenos lugarejos visitados, tudo reforçado por uma trilha sonora de clássicos do cancioneiro brega (tem até Bartô Galeno!). A luminosa fotografia serve de contraste à desesperança reinante por toda a narrativa, que só é atenuada na simbólica cena final. Visualmente, um dos filmes mais bonitos do festival e da nova safra do cinema nacional. No entanto, o solilóquio de amargura conduzido ao longo dos 71 minutos de duração do filme (quase não é um longa-metragem), mesmo emoldurado pelas belas imagens, não é suficiente para sustentar o interesse permanente do espectador. Quase no final, ensaia virar um documentário, com direito a entrevistas (uma conversa com uma jovem que se prostitui e conta dos seus planos, de sua idéia de felicidade, que seria uma “vida-lazer”, que ela explica como sendo a idéia de voltar para casa no final do dia e encontrar o marido à sua espera). Ou seja, é fácil se identificar com o narrador e entender seus anseios existenciais. O curioso título é uma famosa máxima de pára-choque, mas aqui é apresentado em um cartaz pregado na parede de uma borracharia de estrada. As filmagens ocorreram no interior do Ceará, Paraíba e Pernambuco, com algumas tomadas rodadas em Acapulco, no México, realizadas com uma diferença de 10 anos (1999 e 2009). * *

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