quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Oscar 2010 - I

Depois de quase 70 anos, a Academia dobrou o número de indicados ao Oscar de melhor filme. Na cerimônia de entrega do prêmio, a se realizar em 7 de março, dez produções concorrerão pela láurea máxima do cinema. A justificativa para a inflação de candidatos foi a alta qualidade do cinema produzido hoje em Hollywood. Mas basta uma rápida análise dos nomeados para constatar que não é bem assim. Na verdade, tal decisão parece estar muito mais atrelada às pressões dos grandes estúdios, que assim podem emplacar suas obras e faturar mais com o simples chamariz de “filme indicado ao Oscar”. A diferença entre o que se faz hoje e o que se fazia naquele tempo é tão grande quanto a distância que separa o mundo dos humanos de Pandora.

Entre o final da década de 30 e o começo da de 40, era comum que dez filmes disputassem o prêmio. Porém, naquela época sim, podíamos falar de alto nível das produções. Apenas para ficarmos naquele que é considerado por muitos como o ano mais fértil da história do cinema, veja alguns filmes indicados à categoria principal em 1940: E o vento levou..., O mágico de Oz, No tempo das diligências, Adeus Mr. Chips, Ninotchka... Por uma década, a Academia manteve o número de dez indicados, sempre confrontando obras como As vinhas da ira, Núpcias de escândalo, O grande ditador (1941), Cidadão Kane, Sargento York, Como era verde o meu vale (1943), Casablanca, Consciências mortas, Nosso barco, nossa alma (1944) – a partir de 1945, o número de indicados estabilizou-se em cinco.

A lista de nomeados este ano, contudo, pode ser vista como a mais eclética de todos os tempos. Há espaço para aventuras fantásticas, comédias de costumes, dramas humanistas, animações e até uma ficção científica sul-africana, caso inédito na história do prêmio. Todos os prognósticos apontam para a vitória do monumental Avatar, de James Cameron, o “rei do mundo” desde os tempos de Titanic, que, contudo, não conseguirá repetir os feitos alcançados com seu sucesso anterior, mesmo porque sua superprodução atual recebeu menos indicações – 9 contra 14 daquela. O filme já se consolidou como a maior bilheteria de todos os tempos, rendendo mais de 1,83 bilhão de dólares em todo o mundo, superando a marca anterior, que era de... Titanic. Chega respaldado também pelas inovações tecnológicas introduzidas pelo uso do 3D, que é um sistema antigo de projeção, mas que somente agora, no limiar de um novo século, ganha as ferramentas adequadas para se popularizar, embora o uso daqueles oclinhos seja incômodo pra caramba. O fato é que Avatar está muito longe de ser o grande filme apregoado por vários espectadores, certamente encantados pela ousadia visual, confundindo uma coisa com outra, esquecendo-se do roteiro esquemático, dos personagens rasos e sem sustentação dramática. Mas, além de deu poderio financeiro, o filme já chega como franco favorito também por ter arrebatado o Globo de Ouro, tradicional prévia do Oscar, e que quase sempre serve de termômetro para indicar o grande vencedor da estatueta dourada.

Na cola de Avatar, está Guerra ao terror, curiosamente dirigido por Kathryn Bigelow, ex-esposa de Cameron e apenas a quarta mulher nomeada ao Oscar da categoria. Suas chances de desbancar o ex-marido são grandes; já seu filme, lançado meio na encolha ano passado, colecionou elogios nos últimos tempos e pode surpreender na disputa. No Brasil, teve uma trajetória curiosa: foi lançado primeiro em DVD, porque sua distribuidora, a Imagem, simplesmente não acreditou em seu potencial de mercado. Bastou o burburinho na imprensa norte-americana, e as posteriores 9 indicações ao Oscar, contudo, para que ele ganhasse finalmente as salas exibidoras, nas quais estreou no último dia 5. (Continua)

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