segunda-feira, 26 de março de 2012

E-book: o livro do futuro

Os catastrofistas de plantão que gostam de anunciar o fim do livro devem rever seus conceitos. Ele não desaparecerá: no máximo, passará por uma transformação. Embora de maneira ainda tímida, os e-books já são uma realidade e, se ainda não se popularizaram completamente, isso se deve a uma certa insegurança do mercado editorial que, contudo, prepara-se para investir pesado nesse novo equipamento.

As perspectivas animadoras são defendidas pelo professor e cientista social Alexandre Linares em extenso artigo publicado no site em fevereiro de 2011. Para ele, o e-book só não tem uma visibilidade maior, ainda, porque o mercado teme se aventurar por um nicho ainda incerto. “É uma tendência do mercado em geral: esperar alguém ir na frente, bater a cabeça, errar, se machucar... para depois o restante seguir a trilha já traçada sem dificuldades.”

Mesmo com tantas reticências, já se observam iniciativas de fomento ao incentivo do livro digital, como a da Ediouro, com seu projeto Singular Digital, que distribui conteúdo eletrônico de diversas publicações sob demanda e da forma que o cliente preferir; ou a do Grupo Positivo, que aposta em um e-reader próprio para marcar espaço entre as plataformas tecnológicas que aos poucos começam a conquistar o leitor brasileiro.

“Livro é conteúdo, não forma”, continua Linares. Para ele, outro motivo pelo qual há tanto receio em apostar em uma nova forma de leitura é que as editoras, muitas tradicionais, com anos de mercado, ainda veem o livro como um produto de papel, o que impede que as empresas do setor aceitem a gradual mudança que vem ocorrendo. E vai mais além: a grande revolução permitida pelo e-book é a facilidade de socializar o conhecimento. E compara:

– Vivemos uma nova transformação gutenberguiana. Aquilo que Gutenberg fez com seus tipos móveis mudou o mundo. Não pela técnica em si, mas porque essa técnica foi capaz de reduzir drasticamente os custos do acesso ao conhecimento e a novas ideias que antes estavam isoladas e fragmentadas. Socializou, assim, o conhecimento clássico e abriu as portas para novas ideias.

Os usuários de e-book já descobriram algumas de suas vantagens. Com um bom leitor eletrônico, é possível armazenar uma vasta biblioteca em um único lugar, além de permitir que o usuário tenha acesso a ela em qualquer lugar que esteja. Ou seja, praticidade, portabilidade e economia de espaço são os maiores atrativos para quem ainda está em dúvida sobre valer a pena adquirir um e-book.

Outro fator que ainda impede as editoras de investirem pesado no livro digital é, claro, o aspecto financeiro. Segundo Linares, não é possível achar que as faixas de lucro vão ser as mesmas das vendas de livros tradicionais:

– Hoje o público de vanguarda está comprando leitores (e-readers/tablets) e já consumindo no Brasil. É um público pequeno ainda, mas é o que consome mais e logo exigirá o que consumir. Seja ele professor universitário, leitor modista radical, pessoas da área de tecnologia ou advogado consumidor de livros jurídicos pesados que não quer carregar na mala.

Não há dúvida de que os e-books transformam a experiência da leitura. Longe de extingui-la, eles permitem uma nova interação entre leitor e livro. Seria possível imaginar, num futuro não muito distante, e diante de tantas inovações tecnológicas que se nos apresentam, que o leitor talvez até possa interagir diretamente com a história, montando-a e desmontando-a de acordo com suas preferências, seus pontos de vista. Por exemplo: “não gostei deste personagem, vou deletá-lo da história”; ou: “acho que este personagem aqui está subaproveitado, vou fazê-lo crescer daqui por diante, ele terá mais voz ativa” etc. Ou ainda: “a trama está morna, vou acrescentar detalhes mais picantes”. E por aí vai...

(Artigo publicado originalmente na revista Caderno 0, em setembro de 2011)

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