terça-feira, 3 de abril de 2012

Os espiões também amam


Certa vez Hitchcock disse que se filmasse uma versão de Cinderela, o público esperaria que houvesse um cadáver dentro da carruagem. Em outras palavras, quando um diretor consagrado por um gênero se arrisca em algo diferente, espera-se sempre que ele repita seu estilo e reproduza sua gramática narrativa de modo a caber naquele gênero. O diretor McG, especialista em fitas de ação, quis fazer uma coisa diferente e o resultado é este Guerra é guerra, cujo resultado é satisfatório, embora muito estranho para quem está acostumado com o rigor adocicado das comédias românticas.


Ele quis inovar e fez praticamente uma comédia romântica com muita aventura e adrenalina, na tentativa de seduzir o público masculino, normalmente avesso a esse tipo de fita. Pode funcionar, embora haja alguns equívocos na concepção do projeto. O principal deles foi escalar Reese Witherspoon como interesse amoroso disputado por dois homens. Não que ela seja feia, até está longe disso (tem charme e beleza suficientes para integrar a minha relação das 500 atrizes mais bonitas de todos os tempos), mas o papel pediria alguém com mais sex-appeal, mais atributos físicos, tipo uma Megan Fox, que seria a escolha mais adequada. Reese é certinha demais, pequena e frágil, não funciona direito, mas dá conta do recado, se admitirmos que é tudo uma fantasia escapista sem qualquer compromisso com verossimilhança.

Ela é uma executiva que passa a ser disputada por dois grandes amigos, Tuck (Tom Hardy) e FDR (Chris Pine), espiões da CIA, atividade que naturalmente facilita a busca por informações a respeito da loura, de seus hábitos de vida, gostos culturais, o que vai sendo usado pelos dois durante o cortejo, cada um tentando descobrir mais que o outro e atrapalhar o rival, mas sem muita violência nem questionamentos morais, é tudo um faz de conta para passar o tempo. Como ambos são espiões, entre uma cantada e outra, precisam trabalhar e resolver o caso de um terrorista que está escondido no país e planeja uma série de atentados, papel do alemão Till Schweiger. Mas essa subtrama é mal explicada e pior ainda desenvolvida, afinal, o foco ali é a disputa dos dois pelo coração da doce Lauren Scott (Reese). Depois de muitos tiros, explosões, correrias, sabotagens e algum romance, o roteiro arma o desfecho previsível, como convém a uma boa comédia romântica. Dizem que há um final alternativo, que modifica bastante o destino dos personagens, mas que foi descartado pelos produtores; esperamos que seja possível conhecê-lo ao assistirmos aos extras do DVD.

O grande mérito do filme é fazer com que homens e mulheres assistam juntos e numa boa a uma comédia romântica. A namorada vai se divertir com a comédia, o rapaz vai vibrar com as cenas de ação, sem preconceito, e no fim todo mundo sai feliz. A gente esquece tão logo vira a esquina. Mas, lá dentro da sala escura, é boa diversão.

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