Na semana dos namorados, e na esteira do lançamento de uma
comédia italiana nas telas brasileiras, achei que seria adequado comentar sobre
um pequeno filme daquele país que pode ser uma ótima opção para os apaixonados
curtirem juntinhos nessa terça-feira.
Adaptações de obras literárias para o cinema costumam dividir
os fãs e quase sempre são vistas como infiéis, já que ou traem a essência da
história ou acrescentam detalhes inexistentes do texto original. Não é o caso
deste filme, que transpõe muito bem para o celulóide o universo criado no
papel. Pelo título, fica difícil perceber, mas esta é a versão para as telas de
um dos romances mais lidos e comentados na primeira metade dos anos 2000, época
em que a lista dos livros mais vendidos ainda não era dominada por vampiros,
terras místicas ou dramalhões lacrimosos. Inexplicavelmente, a distribuidora
também prejudicou a carreira do filme, dando-lhe um título genérico e comum,
desprezando a força que teria sua tradução literal: Desculpa se te chamo de amor. Aqui, ficou Lição de amor, apenas mais um entre tantos outros de mesmo nome –
não confundir com o homônimo estrelado por Sean Penn, ou outro com Cameron
Diaz....
Foi o próprio autor da história quem dirigiu esta adaptação,
o que serviu para manter quase inalterada a trama básica, e o melhor: sem
descuidar das muitas tramas paralelas, todas encenadas e resolvidas de forma
satisfatória. O livro, campeão de vendas quando de seu lançamento, trazia a
história de Alessandro (Alex), um bem-sucedido publicitário de 37 anos, em
crise no trabalho, onde precisa criar uma campanha para uma nova marca de
balas; se não vencer a competição interna, será transferido para o escritório
da empresa na Suíça. Seu destino se cruza ao de Nicoletta (Niki), uma
espevitada adolescente de 17 anos, a partir de um acidente de trânsito. Niki
entra como um furacão na vida de Alex. Os dois se apaixonam. Mas quem disse que
a história de amor do improvável casal será simples? Entre idas e vindas,
muitos beijos vão rolar.
O italiano Federico Moccia é um homem das artes de maneira
geral. Além de escritor, já se arriscou outras vezes na direção de longas,
tendo estreado em 1987, com Bola ao centro, mantendo uma carreira bissexta
desde então (este é apenas seu quarto trabalho como diretor e o primeiro a
chegar até nós). Foi ele mesmo quem dirigiu a continuação, Desculpa se quero me casar contigo, cujo livro homônimo também já
saiu aqui, pela Editora Planeta – talvez a versão para cinema, se lançada no
Brasil, também receba um título pouco atraente. Que tal “Uma lição de amor 2” ?. O galã Raoul Bova tem uma
carreira longa, com mais de 60 filmes no currículo, a maioria produções de sua
Itália natal, algumas exibidas no Brasil, como Sob o sol da Toscana, A
janela da frente, recentemente em Baaria
– a porta do vento. Mas também já se arriscou em Hollywood – você deve
tê-lo visto em Alien vs. Predador e em
O turista, com Johnny Depp e Angelina
Jolie. Atualmente trabalha em Gardel,
biografia do gênio da música, com lançamento previsto para o ano que vem.
Quem leu o livro certamente vai gostar bastante da adaptação,
embora o autor tenha cometido uma mudança na caracterização da personagem Niki.
No livro, ela é descrita como loura; mas quem a interpreta é uma atriz morena,
Michela Quatrociocche. O que altera um pouco a percepção da personagem, não é
“a Niki que conhecemos”. Já Alex é aquilo mesmo que nos vem à cabeça quando
lemos o livro. O resto da fauna do texto original está lá: as Ondas amigas de
Niki, o caso com as prostitutas russas logo no começo, a ex-mulher de Alex que
reaparece (mas quem prestar atenção não terá surpresas no desenrolar da trama,
suspense este que é mantido de forma admirável no livro). Não falta nem o
acidente quase ao final, que sempre achei deslocado no livro, parece ter sido
criado para alongar a história, já que não muda nada. O único personagem limado
da adaptação foi Mauro, o jovem romano desempregado, que também tinha uma
função bem definida no romance. Mas o autor provou ter domínio de sua obra e
conseguiu traduzir em apenas 90 minutos um livro de mais de 400 páginas
mantendo sua essência. Não é qualquer um que consegue.
Para
quem pensa que comédia romântica é só coisa de Hollywood, aqui vai uma boa
aposta. Aproveite antes que façam uma refilmagem em terras ianques.
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