segunda-feira, 11 de junho de 2012

Desculpa se te chamo de amor


Na semana dos namorados, e na esteira do lançamento de uma comédia italiana nas telas brasileiras, achei que seria adequado comentar sobre um pequeno filme daquele país que pode ser uma ótima opção para os apaixonados curtirem juntinhos nessa terça-feira.

Adaptações de obras literárias para o cinema costumam dividir os fãs e quase sempre são vistas como infiéis, já que ou traem a essência da história ou acrescentam detalhes inexistentes do texto original. Não é o caso deste filme, que transpõe muito bem para o celulóide o universo criado no papel. Pelo título, fica difícil perceber, mas esta é a versão para as telas de um dos romances mais lidos e comentados na primeira metade dos anos 2000, época em que a lista dos livros mais vendidos ainda não era dominada por vampiros, terras místicas ou dramalhões lacrimosos. Inexplicavelmente, a distribuidora também prejudicou a carreira do filme, dando-lhe um título genérico e comum, desprezando a força que teria sua tradução literal: Desculpa se te chamo de amor. Aqui, ficou Lição de amor, apenas mais um entre tantos outros de mesmo nome – não confundir com o homônimo estrelado por Sean Penn, ou outro com Cameron Diaz....

Foi o próprio autor da história quem dirigiu esta adaptação, o que serviu para manter quase inalterada a trama básica, e o melhor: sem descuidar das muitas tramas paralelas, todas encenadas e resolvidas de forma satisfatória. O livro, campeão de vendas quando de seu lançamento, trazia a história de Alessandro (Alex), um bem-sucedido publicitário de 37 anos, em crise no trabalho, onde precisa criar uma campanha para uma nova marca de balas; se não vencer a competição interna, será transferido para o escritório da empresa na Suíça. Seu destino se cruza ao de Nicoletta (Niki), uma espevitada adolescente de 17 anos, a partir de um acidente de trânsito. Niki entra como um furacão na vida de Alex. Os dois se apaixonam. Mas quem disse que a história de amor do improvável casal será simples? Entre idas e vindas, muitos beijos vão rolar.

O italiano Federico Moccia é um homem das artes de maneira geral. Além de escritor, já se arriscou outras vezes na direção de longas, tendo estreado em 1987, com Bola ao centro, mantendo uma carreira bissexta desde então (este é apenas seu quarto trabalho como diretor e o primeiro a chegar até nós). Foi ele mesmo quem dirigiu a continuação, Desculpa se quero me casar contigo, cujo livro homônimo também já saiu aqui, pela Editora Planeta – talvez a versão para cinema, se lançada no Brasil, também receba um título pouco atraente. Que tal “Uma lição de amor 2”?. O galã Raoul Bova tem uma carreira longa, com mais de 60 filmes no currículo, a maioria produções de sua Itália natal, algumas exibidas no Brasil, como Sob o sol da Toscana, A janela da frente, recentemente em Baaria – a porta do vento. Mas também já se arriscou em Hollywood – você deve tê-lo visto em Alien vs. Predador e em O turista, com Johnny Depp e Angelina Jolie. Atualmente trabalha em Gardel, biografia do gênio da música, com lançamento previsto para o ano que vem.
  

Quem leu o livro certamente vai gostar bastante da adaptação, embora o autor tenha cometido uma mudança na caracterização da personagem Niki. No livro, ela é descrita como loura; mas quem a interpreta é uma atriz morena, Michela Quatrociocche. O que altera um pouco a percepção da personagem, não é “a Niki que conhecemos”. Já Alex é aquilo mesmo que nos vem à cabeça quando lemos o livro. O resto da fauna do texto original está lá: as Ondas amigas de Niki, o caso com as prostitutas russas logo no começo, a ex-mulher de Alex que reaparece (mas quem prestar atenção não terá surpresas no desenrolar da trama, suspense este que é mantido de forma admirável no livro). Não falta nem o acidente quase ao final, que sempre achei deslocado no livro, parece ter sido criado para alongar a história, já que não muda nada. O único personagem limado da adaptação foi Mauro, o jovem romano desempregado, que também tinha uma função bem definida no romance. Mas o autor provou ter domínio de sua obra e conseguiu traduzir em apenas 90 minutos um livro de mais de 400 páginas mantendo sua essência. Não é qualquer um que consegue.

Para quem pensa que comédia romântica é só coisa de Hollywood, aqui vai uma boa aposta. Aproveite antes que façam uma refilmagem em terras ianques.

Nenhum comentário:

Postar um comentário