domingo, 29 de julho de 2012

Faroeste de olhos puxados


O faroeste é considerado o mais norte-americano dos gêneros cinematográficos, o que não o impediu de frutificar também em outras paragens. A Itália nos rendeu o “spaghetti western” e um dos grandes mestres do gênero, Sérgio Leone. No Brasil, o “nordestern” floresceu como a nossa versão das aventuras de mocinhos e bandidos, sem índios – alguns historiadores defendem que o ciclo do cangaço equivaleu ao nosso faroeste. Mesmo no Oriente, de tradições tão diversas do velho oeste americano, houve alguns exemplares do gênero, já que Os sete samurais e Sanjuro, ambos de Kurosawa, são aceitos como legítimos representantes do bom e velho bangue-bangue.

E é exatamente da Ásia que vem um dos mais divertidos filmes de faroeste dos últimos tempos: Os invencíveis, uma delirante e movimentada aventura passada entre desertos e pradarias, dirigida por Kim Jee-Woon. O filme, mesmo tendo sido um dos campeões de público no Festival do Rio de 2008, nunca foi lançado em circuito comercial, mas está disponível em DVD, passa de vez em quando na TV a cabo e merece uma conferida.

Naquele ano, o filme foi exibido com seu título original traduzido: O bom, o mau e o bizarro (“The good, the bad, the weird”), o que já era autoexplicativo. A idéia do diretor foi justamente homenagear os clássicos do faroeste com toneladas de citações, a começar do título, uma óbvia referência a Três homens em conflito (no original, “The good, the bad and the ugly”, ou “o bom, o mau e o feio”, como ficou mais conhecido no Brasil), de Sérgio Leone. A essas alturas, o leitor deve estar se questionando: faroeste sul-coreano? Será que isso dá liga? A resposta é: dá sim. E, se por um lado não pode mesmo ser comparado ao original que lhe serviu de inspiração, por outro, vem reafirmar a força do cinema daquele país, que se reinventa e não perde a mão nem quando realiza uma obra completamente estranha ao contexto histórico-social daquele povo.

A trama é ambientada na Manchúria da década de 30. Três mercenários disputam entre si a posse de um mapa que conduzirá seu detentor a um grande tesouro. Ou seja, a trama não apresenta novidades: é igual a tantas outras já vistas no cinema norte-americano. O que chama a atenção é a inventividade do diretor em reciclar clichês e reaproveitar situações próprias ao tradicional western. Embora a ação reze pela cartilha do gênero, há toques orientais na maneira como a história é conduzida, com personagens que satirizam o faroeste que conhecemos. Há inúmeras referências, incluindo os temas musicais. No fundo, o que confere grande atrativo ao filme é justamente a paródia feita em cima de uma das mais sagradas instituições hollywoodianas. Para se ter uma idéia, há até gângsteres coreanos interessados no tesouro.


É um filme bem movimentado, divertido, que merece ser descoberto. Mas os fãs do bom e velho bangue-bangue podem achar meio estranho. 

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