quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Confissões de um seriemaníaco - IV


FDP
Onde e quando: HBO, domingo, 20h30; reprises em horários diversos.
Elenco: Eucir de Souza, Paulo Tiefenthaler, Cynthia Falabella.
Sinopse: O juiz de futebol Juarez Gomes da Silva sonha em apitar uma final de Taça Libertadores enquanto enfrenta problemas pessoais.


Comentários: Não sei se já é o efeito da chamada Lei da TV a Cabo, que obriga as operadoras a apresentarem produções nacionais em horário nobre, mas o fato é que a HBO vem investindo em séries brasileiras. Esta é a segunda seguida, depois da boa Preamar e de outras bem-sucedidas e mais antigas (Filhos do carnaval, Mandrake, Alice, mais recente Mulher de fases). Uma escolha que valoriza a produção nacional e aqui se mostra um acerto por trazer ao público um tema pouquíssimo explorado pelo audiovisual, o futebol, que, mesmo sendo parte inerente da cultura do nosso povo, não consegue se fazer retratar com competência nem no cinema (com raras exceções) nem na televisão. A grafia original é em caixa baixa e entre parênteses. O roteiro, escrito por José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, é um achado. Somos apresentados ao juiz de futebol Juarez Gomes da Silva, apaixonado pela sua profissão, aparentemente profissional (não há indícios de que ele tenha outra ocupação, ao contrário do que normalmente ocorre no meio), cujo grande sonho é apitar uma final de Taça Libertadores da América. A cena de abertura da série é um primor de nonsense, com o árbitro encerrando a almejada partida e sendo carregado em triunfo pelos jogadores de ambas as equipes! Claro que é um sonho de Juarez, que logo acorda e precisa lidar com os problemas de sua vida real. Embora a série deixe claro que Juarez prima pela honestidade em seu ofício, fora das quatro linhas ele não é nenhum santo. Contaminou a mulher com uma doença venérea, contraída em uma relação extraconjugal, razão pela qual ela pede o divórcio. Tem dificuldades para aceitar a escolha do filho pré-adolescente, que prefere usar sapatilhas de balé para aprender a dança a chuteiras para se tornar jogador. Enquanto árbitro, sofre pressão de todos os lados. No primeiro episódio, o magistrado que conduz o processo de separação se revela também presidente do clube que decide o Campeonato Paulista contra um time pequeno e, ao encontrá-lo a caminho do estádio, faz questão de lembrá-lo para “apitar com inteligência”. O resultado não sai como esperado e Juarez será alvo da vingança do outro juiz. A cada episódio, há uma partida de futebol para a qual Juarez é escalado e uma situação paralela que envolve sua vida pessoal. Ambas se cruzarão em certo ponto com sua atuação dentro das quatro linhas, que, por sua vez, influencia o que acontece fora delas.


Por que ver: Antes de tudo, pela criatividade dos roteiros. Com uma estrutura que se anuncia repetida ao longo da série, são pequenos detalhes que fazem a delícia de cada episódio. Há referências e citações facilmente identificáveis, como o nome do estádio em que se joga a final do Paulistão (Parque Atlântico, na verdade o Morumbi com outro nome), o comentarista esportivo que só repete frases feitas, os anunciantes dos programas esportivos e as placas de patrocinadores das partidas. Qualquer pessoa pode curtir essa gozação, mas é claro que quem acompanha futebol e conhece a realidade abordada aproveita melhor as sacadas. O elenco está ótimo. Não conhecia esse ator, Eucir de Souza, que trabalha já desde 2000 e tem uma longa ficha de títulos pouco vistos ou conhecidos. Começou em Soluços e soluções, fez muitos curtas, novelas de TV, e recentemente integrou o elenco de Força tarefa e está em O gorila, aguardada adaptação da novela homônima de Sérgio Sant’Anna que será exibida no Festival do Rio. Tiefenthaler, que faz um dos auxiliares (bandeirinhas) que é sempre escalado com Juarez, é conhecido pelo programa Larica Total, do Canal Brasil, e aqui tem a chance de confirmar sua veia artística.
Por que não ver: Mulheres podem rejeitar a série, já que o assunto é essencialmente masculino. Os espectadores que também não gostam de futebol (inclusive homens que não se ligam no esporte, e há muitos) também não se sentirão interessados em assisti-la. Mas a dica é jogar o preconceito para o escanteio e conferir ao menos um episódio. 

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