FDP
Onde e quando: HBO, domingo,
20h30; reprises em horários diversos.
Elenco: Eucir de Souza, Paulo
Tiefenthaler, Cynthia Falabella.
Sinopse: O juiz de futebol Juarez
Gomes da Silva sonha em apitar uma final de Taça Libertadores enquanto enfrenta
problemas pessoais.
Comentários: Não sei se já é o
efeito da chamada Lei da TV a Cabo, que obriga as operadoras a apresentarem
produções nacionais em horário nobre, mas o fato é que a HBO vem investindo em
séries brasileiras. Esta é a segunda seguida, depois da boa Preamar e de outras bem-sucedidas e mais
antigas (Filhos do carnaval, Mandrake,
Alice, mais recente Mulher de fases).
Uma escolha que valoriza a produção nacional e aqui se mostra um acerto por
trazer ao público um tema pouquíssimo explorado pelo audiovisual, o futebol,
que, mesmo sendo parte inerente da cultura do nosso povo, não consegue se fazer
retratar com competência nem no cinema (com raras exceções) nem na televisão. A
grafia original é em caixa baixa e entre parênteses. O roteiro, escrito por José
Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, é um achado. Somos apresentados ao
juiz de futebol Juarez Gomes da Silva, apaixonado pela sua profissão,
aparentemente profissional (não há indícios de que ele tenha outra ocupação, ao
contrário do que normalmente ocorre no meio), cujo grande sonho é apitar uma
final de Taça Libertadores da América. A cena de abertura da série é um primor
de nonsense, com o árbitro encerrando a almejada partida e sendo carregado em
triunfo pelos jogadores de ambas as equipes! Claro que é um sonho de Juarez,
que logo acorda e precisa lidar com os problemas de sua vida real. Embora a
série deixe claro que Juarez prima pela honestidade em seu ofício, fora das
quatro linhas ele não é nenhum santo. Contaminou a mulher com uma doença
venérea, contraída em uma relação extraconjugal, razão pela qual ela pede o
divórcio. Tem dificuldades para aceitar a escolha do filho pré-adolescente, que
prefere usar sapatilhas de balé para aprender a dança a chuteiras para se
tornar jogador. Enquanto árbitro, sofre pressão de todos os lados. No primeiro
episódio, o magistrado que conduz o processo de separação se revela também
presidente do clube que decide o Campeonato Paulista contra um time pequeno e,
ao encontrá-lo a caminho do estádio, faz questão de lembrá-lo para “apitar com
inteligência”. O resultado não sai como esperado e Juarez será alvo da vingança
do outro juiz. A cada episódio, há uma partida de futebol para a qual Juarez é
escalado e uma situação paralela que envolve sua vida pessoal. Ambas se
cruzarão em certo ponto com sua atuação dentro das quatro linhas, que, por sua
vez, influencia o que acontece fora delas.
Por que ver: Antes de tudo, pela
criatividade dos roteiros. Com uma estrutura que se anuncia repetida ao longo
da série, são pequenos detalhes que fazem a delícia de cada episódio. Há
referências e citações facilmente identificáveis, como o nome do estádio em que
se joga a final do Paulistão (Parque Atlântico, na verdade o Morumbi com outro
nome), o comentarista esportivo que só repete frases feitas, os anunciantes dos programas esportivos e as placas de patrocinadores
das partidas. Qualquer pessoa pode curtir essa gozação, mas é claro que quem
acompanha futebol e conhece a realidade abordada aproveita melhor as sacadas. O
elenco está ótimo. Não conhecia esse ator, Eucir de Souza, que trabalha já
desde 2000 e tem uma longa ficha de títulos pouco vistos ou conhecidos. Começou
em Soluços e soluções, fez muitos
curtas, novelas de TV, e recentemente integrou o elenco de Força tarefa e está em O
gorila, aguardada adaptação da novela homônima de Sérgio Sant’Anna que será
exibida no Festival do Rio. Tiefenthaler, que faz um dos auxiliares
(bandeirinhas) que é sempre escalado com Juarez, é conhecido pelo programa
Larica Total, do Canal Brasil, e aqui tem a chance de confirmar sua veia
artística.
Por que não ver: Mulheres podem
rejeitar a série, já que o assunto é essencialmente masculino. Os espectadores
que também não gostam de futebol (inclusive homens que não se ligam no esporte,
e há muitos) também não se sentirão interessados em assisti-la. Mas a
dica é jogar o preconceito para o escanteio e conferir ao menos um episódio.
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