quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Curta é a maior curtição


Veja que surpresa. O curta-metragem brasileiro A fábrica, dirigido pelo baiano Aly Muritiba, foi incluído entre os 11 pré-finalistas ao Oscar da categoria, cuja relação dos indicados ao prêmio será divulgada no dia 10 de janeiro. Normalmente seriam 10 selecionados, mas houve um empate entre dois títulos e por isso a Academia de Hollywood aumentou para um o número de candidatos elegíveis. Só o fato de ter sido lembrado e passado na peneira que é a fase de pré-seleção já é uma vitória, e se de fato o curta brasileiro concorrer à estatueta, será a segunda vez que isso acontece. Em 2002, Paulo Machline levou o seu Uma história de futebol à lista final de indicados, mas acabou derrotado pelo espanhol Quiero ser....

Ser finalista nessas categorias de menor visibilidade do Oscar é sempre uma loteria, então, não sei até que ponto isso chega como um reconhecimento à qualidade dos curtas-metragens brasileiros, que atualmente experimentam uma fase de revalorização. Quando a Embrafilme fechou as portas, no começo dos anos 90, foi o formato quem garantiu a sobrevivência da indústria, já que era infinitamente mais barato produzir um curta do que investir quantias elevadas em filmes que, muitas vezes, nem se pagavam nas salas de exibição. Agora, com a nova chamada Lei da TV a Cabo, alguns canais por assinatura, ainda sem produção nacional própria em quantidade suficiente para encher sua programação, estão recorrendo a eles para fazer cumprir a cota devida. Não se espera que vá haver uma nova leva de curtas ruins ou de baixa qualidade como se observava nos anos 80, quando outra lei obrigava os exibidores a apresentar um curta nacional antes dos filmes estrangeiros, a chamada Lei do Curta. Quase ninguém sabe, mas ela continua em vigor – só que, como tantas outras leis mais importantes no país, não é cumprida e sequer fiscalizada. Até onde sei, o único cinema do Rio que cumpre essa determinação é o pequeno Jóia, em Copacabana, que brinda os espectadores com Filho das flores, uma breve animação dirigida pelo cartunista Johandson Rezende (que também dá expediente como bilheteiro da sala!), igualmente responsável pela divertida vinheta de abertura das sessões. Mas é só.

Cena de Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado.
Se antigamente a falta de qualidade dos curtas irritava os espectadores e levavam o público a torcer o nariz para o formato, hoje, com esse problema solucionado, a questão passou a ser de escoamento. A produção de curtas-metragens cresce exponencialmente, até mesmo pelas facilidades tecnológicas oferecidas nos dias atuais, com celulares e câmeras digitais, que não só barateiam o processo, mas também ampliam a rede de realizadores. E o que fazer com tantos títulos? O circuito exibidor não tem como absorver o formato, ainda que a lei fosse cumprida, só alguns filmes poderiam ser apresentados antes das sessões, e certamente haveria decisões políticas para nortear tais escolhas. Algo do tipo: "Vamos exibir curtas feitos na 'comunidade', ou do diretor X, que é meu conhecido...". Há alternativas, como o Curta Cinema, tradicional mostra de curtas-metragens, nacionais e estrangeiros, que acontece no Rio de Janeiro em outubro. A TV Brasil mantém no ar há anos uma sessão dedicada aos curtas brasileiros. O Canal Brasil, historicamente, sempre reservou cotas de sua programação para a exibição desses filmes. E há a internet, que acaba sendo a melhor plataforma tanto para o lançamento quanto para a divulgação e popularização dos curtas.

Chega a ser quase irônico também constatar que, hoje, os curtas também ajudam a formar platéias pelo Brasil. Repare na programação de qualquer evento audiovisual que aconteça em qualquer cidade. Sempre há uma mostra de curtas-metragens. É o melhor cartão de visitas para quem não tem o hábito de ir ao cinema ou não tem tempo para assistir a um longa. Condenados no passado, os curtas brasileiros hoje ganham o mundo pela sua qualidade. Nunca despreze o formato. 

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