quinta-feira, 17 de abril de 2014

O brilhareco da estrela

Nem o mais pessimista torcedor do Botafogo poderia imaginar que a participação do time na Taça Libertadores da América (insisto em chamar pelo nome antigo, hoje é Copa por fins mercadológicos, mas eu não tenho nada a ver com isso), depois de 18 anos de ausência, fosse terminar de maneira tão vexatória, com o time sendo eliminado ainda na primeira fase e, pior, terminando na lanterna do grupo. Se era para fazer esse papelão, melhor que nem tivesse se classificado. Ainda por cima, ficou a impressão de que todo o esforço empreendido pela equipe no ano passado foi em vão, porque do começo ao fim foi tudo um equívoco só.

Lodeiro jogou pouco e decepcionou a torcida.
De nada adiantou a torcida comparecer em ótimo número aos jogos no Maracanã, fazer mosaico, entoar cânticos especialmente criados para a competição. De nada serviu a expectativa de ver o Botafogo chegar, no mínimo, às quartas de final ou até, por que não?, à final. Foi tudo por água abaixo. E que fique claro: a eliminação não aconteceu no jogo contra o San Lorenzo, na Argentina, com a derrota incontestável por 0x3. Aconteceu uma semana antes, em pleno Maracanã,  na derrota pela contagem mínima para o Unión Española. Ali o Botafogo selou de vez sua pífia participação no torneio. Debaixo dos narizes dos mais de 50 mil torcedores que compareceram para empurrar o time no que seria a vitória que garantiria a vaga. De certa forma, porém, o placar refletiu muito bem o que foi e o que fez o Alvinegro na principal competição do continente. Foi um zero. Foi um nada. Foi um blefe.

O começo até prometia vida longa na competição. Goleada por 4x0 sobre o Deportivo Quito, com festa histórica nas arquibancadas. Começamos bem, vencendo com autoridade o mesmo San Lorenzo que nos devolveria a derrota com juros semanas depois, e arrancando um empate na raça diante do mesmo rival chileno que nos eliminaria dali a um mês. Aí começou a debacle. Uma derrota no último minuto para um ridículo Independiente Del Valle o Botafogo não consegue perder essa mania de levar gol nos acréscimos , do Equador, uma desnecessariamente sofrida vitória contra o mesmo adversário depois e dois tropeços, o mais grave em casa, um autêntico "Maracanaço" alvinegro. O baile que o time levou em Buenos Aires foi só a pá de cal em uma tragédia anunciada. A julgar pelo que vinha mostrando em campo, e considerando o elenco que armou para a disputa da Libertadores, o Botafogo não ia mesmo longe. Talvez caísse já nas oitavas. O que ninguém esperava, contudo, foi o ridículo que o time passou, diante de três equipes que sequer podem ser vistas como forças principais do torneio o time equatoriano, aliás, era estreante na disputa.

Sufoco até contra o Independiente Del Valle no Maracanã.
É claro que os jogadores têm sua parcela de culpa, afinal, foram eles que entraram em campo defendendo o sagrado manto alvinegro. Mas a culpa maior veio de cima, dos escritórios refrigerados da diretoria e, principalmente, do presidente Maurício Assumpção. Nunca vi dirigentes tão incompetentes, inábeis, incapazes no ofício de montar uma equipe para disputar uma competição da envergadura de uma Libertadores. Desde janeiro do ano passado o Botafogo vem sendo desmontado a cada três meses, sempre perdendo jogadores fundamentais no bom funcionamento do esquema da equipe.

São peças importantes vendidas com torneios em andamento, desfigurando o time. Do esforçado lateral esquerdo Márcio Azevedo ao quase decorativo atacante Bruno Mendes, foram quase 10 jogadores negociados ano passado, incluindo o promissor Vitinho, vendido ao futebol russo em um momento no qual o Botafogo mais precisava de força ofensiva, nas quartas de final da Copa do Brasil. Já no começo deste ano, mais dois desfalques incontornáveis: o holandês Seedorf, que abandonou a carreira e foi ser técnico do Milan, e Rafael Marques, que, à parte o fato de mal ser um atacante especialista (jogava melhor quando saía para buscar jogo e armar tramas ofensivas), era uma referência na área.

Um dia provaremos seu gosto?
Muito pior que a diretoria não fez contratações à altura para suprir a ausência de todos estes jogadores. Para "reforçar" o time na Libertadores, optou por um veterano de 35 anos (Jorge Wágner), que, apesar de experiente na competição, nunca foi grande coisa nem nos seus melhores dias; um atacante (Ferreyra, o "Tanque") cujo grande feito foi tropeçar na bola e perder um gol feito na final do ano passado, quando jogava pelo Olímpia, contra o Atlético-MG; e dois laterais criados na base do Flamengo (Alex e Ânderson) que estavam exilados na Holanda, e, quando jogaram, o fizerem muito mal. Outro problema foi confiar o comando da equipe a um treinador inexperiente, como Eduardo Húngaro, que só havia treinado antes as categorias de base do clube, onde até fez bom trabalho revelando jogadores, como Dória e Gabriel, mas ganhar título que é bom, nada.

A justificativa para tamanha indigência técnica na hora de contratar  foi a de que o clube não tinha dinheiro para ousadias ou jogadores mais caros. Mas, espera aí: o Botafogo vende tantos jogadores e nunca tem dinheiro? Não é possível que toda essa grana vá parar no bolso dos empresários, sem que o clube lucre um centavo sequer. Que amadorismo é esse? E os patrocinadores? Ninguém se coça para ajudar? Afinal, Liberadores não é pouca coisa, qualquer marca que investisse ali ganharia em exposição, claro, à medida que o time fosse avançando etapas claro, pois um time forte tem muito mais chances de disputar o título. Ou trata-se de incompetência em último nível ou tem alguma coisa muito mal-explicada por aí.

Agora tudo vai parecer "chororô" de perdedor. Fato é que a torcida se sentiu enganada. Apoiou o time na reta final do Campeonato Brasileiro do ano passado, quando conseguiu a última vaga para a Liberadores, lotou o Maracanã, acreditou no time para, no final, terminar segurando a lanterna do grupo, com uma campanha vexaminosa. Espero que não tenhamos de esperar mais 18 anos para removermos essa mancha da nossa gloriosa história. De preferência, com uma caminhada bem mais digna para um clube com a grandeza e a tradição do Botafogo.

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