quinta-feira, 12 de junho de 2014

Cult Fritas - O amor não tira férias

A única certeza que existe sobre o termo "cult-movie" é que ele surgiu na década de 80 nos  Estados Unidos. A origem é incerta. A hipótese mais aceita defende que ele se tornou corrente após o lançamento de Blade Runner, o caçador de andróides (1982): seu sucesso foi tão estrondoso que gerou ondas de culto de fãs fanáticos, que passaram a enxergar inúmeras qualidades nos diversos componentes da história - fotografia, trilha sonora, figurinos etc. Um cult-movie não é um filme perfeito: muitas vezes, são justamente suas falhas que fazem a delícia dos seus apreciadores.

Todo cinéfilo tem seus cult-movies pessoais. A partir desta semana, em intervalos irregulares de tempo, irei escrever sobre algum dos meus. A ordem de publicação é puramente aleatória e a estrutura da postagem seguirá a mesma das Fast Fritas, com a ficha completa, sinopse e um breve comentário.

FÉRIAS DE AMOR
(Picnic)
EUA, 1955. 113 minutos. Columbia. Roteiro de Daniel Taradash e William Inge (a partir de peça de sua autoria). Direção de Joshua Logan. Com: William Holden, Kim Novak, Rosalind Russell, Betty Field, Cliff Robertson.
Sinopse: Um andarilho chega a uma pequena cidade do Meio-Oeste no exato dia do Grande Piquenique Anual. Sua presença despertará paixões e conflitos entre os moradores.
Comentários: Adaptado de uma peça de grande sucesso da Broadway, é um excelente exemplar do melodrama típico de Hollywood, um subgênero extremamente popular nos anos 50. Dirigido pelo mesmo Logan que conduziu a montagem teatral, o filme pode ter envelhecido sob certos aspectos, mas sua força romântica permanece inalterada, apesar das mudanças de costumes da sociedade. Toda a ação se passa no dia do Grande Piquenique Anual, tradicional festa comunitária que tinha como ponto alto a coroação da Rainha do Ano, citada até nos jornais locais. É neste curto espaço de tempo que se operam mudanças significativas na vida e no pensamento dos personagens, incluindo uma professora solteirona e desesperada para casar (Rosalind Russell, em atuação marcada pelo humor e pelo patético).
A fórmula clássica dos melodramas é mantida, com a estrutura familiar e social desmoronando frente ao elemento externo, que prorrompe no ambiente estabelecido e, ao seu modo, destrói as convenções determinadas. A narrativa é pontuada por uma grande tensão sexual, que explode em pequenos detalhes, como na exposição do peito raspado de Holden, o máximo de sensualidade permitido pelo rígido código de censura da época. Repare na mudança de comportamento que sua presença provoca nos personagens femininos. Flo (Betty Field), a irmã de Madge, no começo apresentada como uma adolescente rebelde e quase masculinizada, que briga com garotos, se transforma em uma jovem e sedutora mulher, que, ao final, assume sua condição de intelectual sem perder a feminilidade.
A cena antológica do filme é a dança de Holden e Novak à beira do rio. No fim, quando incentivada pela irmã a recusar a vidinha modorrenta que se lhe anuncia e seguir atrás de Hal, confrontando a preferência da mãe, Madge pronuncia a frase famosa: “A gente não ama uma pessoa por ela ser perfeita”. Emblemática cena final, com o carro de Madge seguindo a trilha do trem que conduz Hal, mantendo acesa a chama da paixão e, de certo modo, adequando o filme a uma resolução romântica, de acordo com o pensamento da época (ainda que por uma moral bastante questionável do ponto de vista das tradições de então).
Indicado a 6 Oscars, incluindo melhor filme, Férias de amor ganhou nas categorias de Direção de Arte e Montagem. Teve uma refilmagem muito inferior feita para a TV em 1998, Piquenique, com Josh Brolin e Gretchen Moll nos papéis centrais.

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