A
única certeza que existe sobre o termo "cult-movie" é que ele surgiu
na década de 80 nos Estados Unidos. A
origem é incerta. A hipótese mais aceita defende que ele se tornou corrente
após o lançamento de Blade Runner, o
caçador de andróides (1982): seu sucesso foi tão estrondoso que gerou ondas
de culto de fãs fanáticos, que passaram a enxergar inúmeras qualidades nos
diversos componentes da história - fotografia, trilha sonora, figurinos etc. Um
cult-movie não é um filme perfeito: muitas vezes, são justamente suas falhas
que fazem a delícia dos seus apreciadores.
Todo
cinéfilo tem seus cult-movies pessoais. A partir desta semana, em intervalos
irregulares de tempo, irei escrever sobre algum dos meus. A ordem de publicação
é puramente aleatória e a estrutura da postagem seguirá a mesma das Fast
Fritas, com a ficha completa, sinopse e um breve comentário.
FÉRIAS
DE AMOR
(Picnic)
EUA,
1955. 113 minutos. Columbia. Roteiro de Daniel Taradash e William Inge (a partir de peça de sua autoria). Direção de Joshua Logan. Com: William Holden, Kim Novak, Rosalind Russell, Betty Field, Cliff
Robertson.
Sinopse:
Um andarilho chega a uma pequena cidade do Meio-Oeste no exato dia do Grande
Piquenique Anual. Sua presença despertará paixões e conflitos entre os
moradores.
Comentários:
Adaptado de uma peça de grande sucesso da Broadway, é
um excelente exemplar do melodrama típico de Hollywood, um subgênero
extremamente popular nos anos 50. Dirigido pelo mesmo Logan que conduziu a
montagem teatral, o filme pode ter envelhecido sob certos aspectos, mas sua
força romântica permanece inalterada, apesar das mudanças de costumes da
sociedade. Toda a ação se passa no dia do Grande Piquenique Anual, tradicional
festa comunitária que tinha como ponto alto a coroação da Rainha do Ano, citada
até nos jornais locais. É neste curto espaço de tempo que se operam mudanças
significativas na vida e no pensamento dos personagens, incluindo uma
professora solteirona e desesperada para casar (Rosalind Russell, em atuação
marcada pelo humor e pelo patético).
A
fórmula clássica dos melodramas é mantida, com a estrutura familiar e social
desmoronando frente ao elemento externo, que prorrompe no ambiente estabelecido
e, ao seu modo, destrói as convenções determinadas. A narrativa é pontuada por
uma grande tensão sexual, que explode em pequenos detalhes, como na exposição
do peito raspado de Holden, o máximo de sensualidade permitido pelo rígido
código de censura da época. Repare na mudança de comportamento que sua presença
provoca nos personagens femininos. Flo (Betty Field), a irmã de Madge, no
começo apresentada como uma adolescente rebelde e quase masculinizada, que
briga com garotos, se transforma em uma jovem e sedutora mulher, que, ao final,
assume sua condição de intelectual sem perder a feminilidade.
A
cena antológica do filme é a dança de Holden e Novak à beira do rio. No fim,
quando incentivada pela irmã a recusar a vidinha modorrenta que se lhe anuncia
e seguir atrás de Hal, confrontando a preferência da mãe, Madge pronuncia a
frase famosa: “A gente não ama uma pessoa por ela ser perfeita”. Emblemática cena
final, com o carro de Madge seguindo a trilha do trem que conduz Hal, mantendo
acesa a chama da paixão e, de certo modo, adequando o filme a uma resolução
romântica, de acordo com o pensamento da época (ainda que por uma moral
bastante questionável do ponto de vista das tradições de então).
Indicado
a 6 Oscars, incluindo melhor filme, Férias
de amor ganhou nas categorias de Direção de Arte e Montagem. Teve uma
refilmagem muito inferior feita para a TV em 1998, Piquenique, com Josh Brolin e Gretchen Moll nos papéis centrais.
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