Se algum torcedor brasileiro que assistiu aos jogos da
Espanha in loco tivesse de justificar
as vaias voltadas a Diego Costa, provavelmente responderia alguma coisa assim:
"Ele é um traidor, deixou de jogar pelo Brasil para jogar pela
Espanha." A resposta é ao mesmo tempo tão vazia de sustentação argumentativa
quanto cheia das conseqüências causadas pela manipulação de informações
provocada pela imprensa.
Diego Costa virou o grande vilão dessa Copa. O homem mais
odiado dos gramados. Era tocar na bola para o público dos três estádios em que
a Espanha jogou nesse Mundial, formado majoritariamente por torcedores
brasileiros, se unir em sonora vaia,
como se ele tivesse marcado o gol do título espanhol em cima da Seleção
Brasileira, em alguma final. Como se fosse marrento e seu comportamento fora do
campo gerasse certa antipatia por conta de excessos e descalabros. Como se
tivesse dado entrevistas em que menosprezasse o país em que nasceu.
Simplesmente como se fosse argentino! Mas a verdade é que Diego Costa nunca foi
ou fez nada disso. Seu único "crime" foi optar por defender as cores
da Espanha em uma Copa do Mundo. O que causou tanta revolta na torcida
tupiniquim foi a forma como sua opção foi tratada pela imprensa de forma geral:
um crime de lesa-pátria.
É provável que o mesmo torcedor que vaiou não lembre, mas
Diego Costa disputou dois amistosos pela Seleção, no ano passado. Foi convocado
por Felipão e atuou contra Inglaterra e Rússia, sempre entrando no decorrer ou
no final das partidas, pouco tocando na bola. Na ocasião, ele começava a obter
algum destaque jogando pelo Atlético de Madri, clube no qual se tornou ídolo,
mas era praticamente desconhecido por aqui. Lógico: saiu cedo do país, nunca
jogou profissionalmente no Brasil e fez toda sua carreira na Espanha - antes,
jogou nos pequenos Celta e Albacete, até desembarcar no "primo pobre"
da capital e desandar a fazer gols. Ou seja, um típico caso de alguém que
encontrou melhores condições de trabalho em outro país e quis retribuir da
forma que encontrou, defendendo aquela nação em um evento global.
A opinião pública foi levada a acreditar que Diego Costa
estava errado ao trocar o Brasil pela Espanha. Embora nenhuma reportagem tenha deixado
clara tal idéia, a maneira como a informação foi transmitida pela imprensa de
forma geral serviu para inocular na população média a crença de que o jogador
escolheu ficar do lado "inimigo", afinal, a Espanha ainda é a atual
campeã mundial, a seleção a ser batida. Como um brasileiro pôde ter a ousadia
de jogar pela Espanha em uma Copa do Mundo justamente disputada no Brasil?
Absurdo. Crime. Traição. Na impossibilidade de ser jogado às catacumbas de um
regime totalitário inexistente por aqui, a punição foi a vaia uníssona de um
povo que sequer sabia quem era Diego Costa até um ano atrás. Promoveu-se um
linchamento moral de um cidadão que nada fez de errado, mas foi condenado de
maneira cruel e sutil pelo posicionamento de opiniões que tomaram a imprensa
dita especializada.
Curioso que outros jogadores brasileiros defenderam seleções
estrangeiras na Copa, como Thiago Motta (Itália), Pepe (Portugal), Eduardo da
Silva e Samir (Croácia). Não consta que tenha havido vaias dirigidas a eles,
ou, se houve, foram tímidas. Talvez por já serem naturalizados há mais tempo.
Ou, certamente, porque tiveram a sorte de serem ignorados pela imprensa na
época em que optaram por jogar por outro país.
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