quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O cinema uniu dois corações

Sombras elétricas (2004)
O Festival do Rio começa no próximo dia 24 e segue até 8 de outubro. Como nos dois últimos anos, o CineComFritas fará uma cobertura especial do evento e publicarei aqui breves resenhas críticas dos filmes a que eu assistir. Este ano o calendário do festival teve de ser ajustado às novas datas comerciais das salas de cinema do país, ou seja, começa em uma quinta-feira (quarta-feira para os convidados; o filme de abertura é O sal da terra, documentário de Wim Wenders sobre o fotógrafo Sebastião Salgado) e termina em uma quarta-feira, para que as distribuidoras mantenham inalterado seu cronograma de lançamentos.

Este será meu décimo terceiro Festival do Rio. Ao longo de todos esses anos, já vi muita coisa boa, muita coisa ruim; já vi filmes que depois se consagraram no circuito, outros que foram massacrados pela crítica quando de sua estréia. Mas o grande barato do festival é mesmo a chance de descobrir tanto novos diretores quanto algum filme que, por motivos diversos, termina restrito ao evento e nunca é lançado no país, posteriormente. Todo mundo que freqüenta o festival tem uma história dessa para contar, de uma pérola peneirada em meio à vasta programação. Comigo já aconteceu algumas vezes. E como os títulos em questão permanecem inéditos por aqui, tenho o prazer cinéfilo de dizer: "Eu estava lá. Eu vi".

Uma dessas descobertas se deu em 2007. Naquele ano, a China foi homenageada com duas mostras: uma de clássicos, outra de produções mais recentes. Desta segunda, escolhi ver um filme chamado Sombras elétricas. Foi talvez a maior jóia que já vi em qualquer edição do festival até hoje. Uma pequena obra sensível e que consegue o máximo com seus poucos recursos cênicos. Foi a estréia da diretora Jiang Xiao, que depois só rodou mais uma fita, Pk.com.cn (também nunca lançado aqui). A história é sobre um jovem que trabalha como entregador de água e é apaixonado por filmes. Um dia, ele sofre um acidente com sua bicicleta e ainda leva uma tijolada de uma desconhecida que passava pelo local. Depois de liberado pelos médicos, ele recebe a incumbência de cuidar dos peixinhos da garota e descobre um pequeno cinema na casa dela, com tela, assentos e paredes decoradas com fotos de estrelas da sétima arte. E também uma espécie de diário, em que descobre que suas vidas estão ligadas desde a infância.

Sentimentos unidos por uma paixão.
A partir daí, é preparar o espírito e se deixar embarcar nessa viagem mágica que constrói, com evidentes ecos de Cinema Paradiso, uma história muito humana, delicada, engraçada, que, embora vá comover a todos, tem um apelo especial para quem é cinéfilo. Basta dizer que o cinema funciona como pano de fundo para todos os acontecimentos da vida dos dois personagens. É como uma força viva, que atua da forma mais inesperada no destino das pessoas e influi nas escolhas que fazemos. São exibidos rápidos trechos de produções antigas (a maior parte da ação se passa nos anos 60, época da Revolução Cultural Chinesa), que conferem à narrativa um encanto a mais. 

Dentre eles, dois destaques: um filme albanês, Vitória sobre a morte, e outro oriental, Guerrilheiros da ferrovia, que mostra um espetacular choque de trens, ainda impressionante nos dias de hoje. Alguns espectadores podem se emocionar e até chegar às lágrimas, mas é um choro gostoso, de lavar a alma. Um filme belíssimo, que merecia entrar em circuito ou, no mínimo, sair em DVD. Infelizmente, nunca mais deu as caras por aqui. Curiosidade metalingüística involuntária: um dos filmes exibidos dentro de Sombras elétricas é Anjo das ruas, que também foi apresentado naquela edição, na outra mostra, a de clássicos, e igualmente desconhecido por aqui (e que eu também vi).

Qual será a grande descoberta do festival este ano? Saberemos nas próximas três colunas especiais.

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