quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Os melhores e piores de 2014

Já escrevi várias vezes: estou ficando chato e muito exigente para cinema. Por ironia, foi mais difícil escolher os melhores do que os piores, dentre o universo de 495 filmes que vi em 2014. Tive trabalho para cortar muitos títulos que me agradaram; o critério foi o de priorizar aqueles que me tocaram de alguma forma, que justificaram minha cinefilia. Já os piores não tiveram muito erro, foram esses mesmo, o supra-sumo da mediocridade. Mesmo assim, insisto em afirmar que o nível do cinema feito hoje em dia vai cada vez mais pela ladeira abaixo. Também criei um posto para a melhor e a pior série de TV - posso não comentar muito sobre elas aqui, mas sou um sériemaníaco de carteirinha, apenas fujo das obviedades que todo mundo acompanha e, tal qual no cinema, busco coisas diferentes.

Ao que interessa.
MELHORES

MISS VIOLENCE - Vem da improvável Grécia o melhor filme que vi em 2014. Com sua assustadora metáfora social, o roteiro do estreante Alexandros Avranas radiografa com extraordinária felicidade um país convulsionado pela crise, tanto financeira quanto, sobretudo, moral. Um conto apavorante sobre a falência de um sistema. Uma cacetada, um soco no estômago, com uma contundência raríssima de se ver no cinema atual.

LUCY - Com um roteiro primoroso, o francês Luc Besson conduz de maneira exemplar esta vertiginosa aventura de ficção científica, que vai muito além do que se espera do gênero e permite diversos questionamentos. Consegue a proeza de agradar tanto aos fãs do gênero quanto quem busca mais do que apenas diversão. É ação para os olhos e o cérebro.

WHIPLASH – EM BUSCA DA PERFEIÇÃO - Ainda que a história não inove na abordagem do tema da superação, o filme conquista o espectador pela energia com que é narrado, pelo brilhante uso do som e, acima de tudo, pelo duelo de interpretações entre o jovem Miles Teller e um estupendo J.K.Simmons, amedrontador como o professor de música que enlouquece seus alunos na busca por uma utopia.

O BEBÊ SANTO DE MACON - Peter Greenaway chega ao ápice de seu refinamento estético nesse teatro filmado com excelência e exuberância cromática (sobretudo do vermelho). Uma das mais contundentes críticas à igreja, defendida por um elenco de grandes nomes dos palcos londrinos. Uma festa para todos os sentidos.

RELATOS SELVAGENS - Seis histórias permeadas pela vingança realizadas de forma admirável por Damián Szifrón. A animalidade humana é intrínseca à raça e, tal qual entre nossos pares ditos irracionais, aparece como conseqüência natural da falência de nossas relações e nossa incapacidade de nos fazermos entender. Com linguagem universal, consegue ótima comunicação com o público. 

A CASA - Esta pérola da Nouvelle Vague japonesa, rodada em 1977, é uma viagem lisérgica pelo mundo da imaginação, feita em clima surrealista e emoldurada por imagens impressionantes, que revelam um traço surpreendente de modernidade no cinema nipônico. Pena que o roteiro se perca do meio para o final.

TOM NA FAZENDA - Antes de Mommy, Xavier Dolan escreveu, dirigiu e estrelou este drama de suspense sobre um rapaz que comparece ao funeral do namorado e levanta suspeitas na família do morto. A placidez que normalmente caracteriza as áreas rurais ganha contornos de tensão sufocante, que vai se impondo aos poucos, de forma natural, levando a um desfecho imprevisível.

NOITE Nº 1 - O começo engana e o que parecia uma historinha boba sobre casal desconhecido que transa por acaso se transforma em um profundo estudo das relações humanas e do quão pouco sabemos acerca de nós mesmos. Aquela noite de sexo fácil pode ser também o momento da grande virada. Bonito, bem-interpretado e com linda trilha sonora.

ANIKI-BOBÓ - Em seu primeiro longa-metragem (de 1942), Manoel de Oliveira já mostra o frescor e o encanto que acompanhariam grande parte de sua obra. Uma visão nostálgica e carinhosa sobre o Porto de uma época pautada pela inocência. Ótimo cartão de vistas para o cinema do longevo diretor.

CAUBÓIS - No apagar das luzes, essa modesta produção européia garantiu lugar na lista dos melhores graças a seu perfeito equilíbrio entre humor rasgado, drama pesado e emoções discretas que vão surgindo devagar, sem jamais resvalar no exagero. Indicado pela Croácia a uma vaga no próximo Oscar de Filme Estrangeiro, acabou, contudo, limado da seleção final.

SÉRIE DE TV
HATUFIM – PRISIONEIROS DE GUERRA – 1ª TEMPORADA - A famosa série israelense que serviu de base para Homeland, ao contrário da versão norte-americana, prefere se centrar nos dramas humanos. Após 17 anos como reféns da Jihad, três soldados retornam ao lar e precisam reconstruir suas vidas, o que causará profundas mudanças em todos os familiares envolvidos. A segunda temporada investe mais no suspense e é menos vibrante, mas também emociona. Prova definitiva de que as boas idéias estão espalhadas por todo o mundo.

PIORES

JÚLIO SUMIU - Outra vez o cinema brasileiro desponta com o pior do ano. É inacreditável como ele consegue se sustentar com essas idiotices. Roteiro caótico  e uma necessidade quase infantil de se usar palavrões como se fossem vírgulas. Muito triste ver uma atriz séria como Lília Cabral estrelando essa barbaridade - ela parece visivelmente constrangida. 

O GIGANTE DO JAPÃO - Uma das produções mais indigentes que já vi, essa paródia aos tokustasu (filmes japoneses de monstros) é tão constrangedora que chega a causar vergonha alheia. Praticamente impossível dar um sorriso. A história é levada em irritante tom infantil e o espectador conta os segundos que faltam para terminar.

UMA VEZ ANTES QUE EU MORRA - Um projeto tão equivocado que chega a ser difícil acreditar que existe. Roteiro indeciso mistura drama romântico com seqüências de guerra sem nenhuma lógica. Como levar a sério um filme em que uma jovem civil acaba no front de batalha e tudo parece normal? Tudo errado, com Ursula Andress nitidamente perdida em cena.

FIM DE SEMANA MORTAL EM ZELLWOOD - Outra idiotice sanguinolenta que confunde terror com tortura. Elenco péssimo, gritaria, sangue a rodo e vísceras expostas: interessa? O único atrativo é a presença da loura Sara Jean Underwood, que foi coelhinha da Playboy, em mais uma frustrante tentativa de se provar atriz.

O FUTURO - A estética de fotonovela prejudica bastante este que poderia ser um interessante painel sobre a sociedade espanhola, entre a festa dos novos tempos que se abriam e a crise que se abateu, levando toda a esperança. A idéia foi ótima; a realização, um desastre.

RECOMENDADO PELO ENRIQUE - Difícil entender a motivação do casal de diretores ao realizar essa suposta comédia de horror em que nada acontece e que sequer consegue desenvolver os personagens de forma consistente. É uma sátira? É suspense? É um falso documentário? Não tenho vontade alguma de rever para saber.

MALDITA SORTE - Comédia grosseira e infantilóide, com boas idéias desperdiçadas por um roteiro preguiçoso, que se limita a explorar sem muita imaginação os desdobramentos da situação inicial. Depois Jessica Alba reclama que ninguém a leva a sério!

TERROR NA ILHA  - Um título genérico para uma história batida: amigas vão para uma ilha e se vêem perseguidas por um psicopata. A diretora Katie Aselton, esperta, não só reservou o papel principal para ela mesma, mas também foi a única a escapar da morte. E os espectadores dessa banalidade é que morrem em 90 minutos irrecuperáveis.

A ESTRANHA COR DAS LÁGRIMAS DO SEU CORPO - Mais um exercício de pretensão e pseudogenialidade do casal Bruno Forzani e Helène Cattet, o mesmo do horrível Amargo (2009). Aqui a história até que faz certo sentido, mas tudo se perde em uma narrativa aborrecida, que dispersa todo o interesse.

OLDBOY – DIAS DE VINGANÇA - Desnecessária refilmagem de um sucesso do cinema sul-coreano, errando em praticamente tudo, do elenco incompetente ao roteiro imbecil, passando pela direção inepta de Spike Lee. Mais uma prova de que os bons cineastas estão se perdendo.


SÉRIE DE TV
ANIMAL - A primeira parceria entre Globo e GNT foi tão alardeada e o resultado é um produto que beira o ridículo. Tem um ponto de partida que nunca chega a se desenvolver completamente, não se resolve nem apresenta desdobramentos coerentes ou soluções eficazes. Sem muito assunto, o roteiro enrola e inventa situações vazias, como o retiro das virgens nuas que aguardam o fim do mundo (!). Édson Celulari envelheceu e não melhorou nada como ator; suas reações de medo, surpresa ou raiva se resumem a arregalar os olhos. O projeto foi uma decepção em todos os níveis.

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